Uma tarde com Joan Vehí o fotógrafo de Salvador Dalí


Uma tarde com Joan Vehí

Ter deixado o conforto do ar condicionado do carro e subir a ladeira íngreme de pedras da Carrer Guillem Bruguera em Cadaqués sob um sol   de 37ºC não era o que me deixava inquieta naquele momento e sim o fato de que a cada passo eu estava mais perto de um encontro muito especial, minha visita a Joan Vehí o fotógrafo de Salvador Dalí, porém a ansiedade desapareceu ao ser recebida por ele a porta de seu estudio, uma mistura de arquivo, museu e galeria de arte.

Com bondade e disposição explicou-me e  mostrou-me detalhes da história pendurada nas paredes, das coleções e dos milhares de arquivos que possui. Joan Vehi reuniu em sua loja em Cadaqués varios  tesouros, como  uma câmera Dubroni 1864, um predecessor da Polaroid do qual existem apenas dois em todo o mundo. Uma câmera de 1888, com doze placas de vidro camuflado para dentro, uma câmera estereoscópica, 1894. Uma coleção de câmeras subaquáticas Nemrod  de 1950 que  testemunharam a atração do homem pelas belezas do fundo do mar. Ao longo do tempo recolheu o que as pessoas queriam jogar fora e com intuição  e habilidade reuniu todo esse material somente encontrado em um bom museu de fotografia.

Como um cronista fotográfico da cidade possui um outro tesouro além máquinas seu arquivo de images, acontecimentos diários na vida de um povo, festas, comemorações familiares, e todos os tipos de eventos preenchem os 60.000 negativos e 20.000 slides que atualmente consiste o arquivo JoanVehi.

O calor ardia lá fora mas no frescor que a construção proporcionava e no aconchego do ambiente pude ouvir um pouco da vida de Joan Vehí que nasceu em Cadaqués em 1929, gosta de viajar, de trabalhar com a madeira e com a terra, possui uma videira e uma plantação de olivas e tem a fotografia como uma das paixões de sua vida.

Em 1945 durante a colheita de uvas, um homem fotografava cadaquenses enquanto estavam fazendo os trabalhos na vinha,  em determinado momento, ele percebeu que a câmera não tinha filme. Ficou tão frustrado que deu a maquina para a próxima pessoa que tinha ao seu lado, o adolescente Joan Vehi. Assim começou a paixão pela fotografia. Antes de ser o fotógrafo Vehí, profissionalmente, Joan era um carpinteiro e em 1951 abriu sua própria  carpintaria.

Porém um carpinteiro com um cliente muito especial, e que teria uma grande influência tanto no seu trabalho como na sua dedicação à fotografia, este cliente era o pintor Salvador Dalí. Em 1952 ele fez um trabalho de carpintaria para Dalí em sua casa Portlligat onde outros trabalhos se seguiram, foram várias peças de mobiliário que Dalí projetou, e que Vehi foi capaz de interpretar e executar. Em 1956, uma forte geada afetou a oliveiras de Cadaqués, Dalí escolheu  expressar  sua arte na madeira das árvores mortas. A oliveira é muito dura e difícil para ser trabalhada, mesmo assim, mesas, cadeiras e outros móveis resultantes da imaginação Dalí tomou forma nas mãos de John Vehi, muitos dos quais podem ser vistos na casa-museu do pintor em Portlligat, entre elas  a mais importante de John Vehi é a cruz de oliveira que serviu de modelo para a obra “Portlligat Cristo.” O resultado desta relação entre o pintor e o fotógrafo é um dos arquivos fotográficos  mais originais e valiosos  sobre a figura de um dos grandes pintores do século XX.

O trabalho fotográfico de João Vehi não se reduz só as fotos de Dalí. posso dizer que ele é um  mestre  na capacidade de estabelecer e preservar memórias, que através de seu trabalho criou e mantém um registro fantástico do cotidiano e das vidas dos cidadãos de Cadaqués. Terminamos nossa conversa com a certeza de que um outro encontro virá e terei outras histórias para ouvir e me encantar.

Vilma Machado

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